O campo sempre foi símbolo de trabalho árduo, dedicação e resiliência. Por décadas, os produtores rurais têm sido os pilares fundamentais da nossa sociedade, alimentando nações inteiras e impulsionando economias. No entanto, por trás dessa imagem que, para algumas pessoas chega a ser bucólica, muitos produtores enfrentam uma batalha silenciosa e desafiadora: a falta de gestão e conhecimento técnico que coloca em risco tudo o que construíram ao longo de suas vidas.
Imagine um cenário onde um produtor rural dedicou cinquenta anos de sua vida à sua terra, investindo tempo, recursos e energia incansável em sua produção. E devido a uma série de circunstâncias, que podem variar desde intempéries climáticas até questões de mercado e, principalmente, falta de capacidade de gestão e conhecimento técnico, ele se vê à beira do precipício financeiro.
Essa realidade não é incomum. A gestão eficaz de uma propriedade rural não se resume apenas em semear e colher. Envolve um conjunto complexo de habilidades que abrangem desde a administração dos recursos financeiros até a aplicação de técnicas agrícolas avançadas. Infelizmente, muitos produtores rurais enfrentam dificuldades nesse aspecto, especialmente quando são confrontados com questões como contabilidade, gestão de custos e planejamento tributário.
É nesse contexto que a recuperação judicial se torna não apenas uma opção, mas muitas vezes a última esperança para esses produtores, já que é um mecanismo legal que visa reorganizar e reestruturar as dívidas de uma empresa, permitindo-lhe continuar suas operações enquanto ajusta suas finanças. Para o produtor rural, isso pode significar seu último folego e ter a chance de renegociar seus débitos, prorrogar prazos e até mesmo implementar medidas para melhorar sua gestão e sustentabilidade a longo prazo.
No entanto, a recuperação judicial não é apenas uma questão econômica; também tem implicações sociais profundas. Em muitos casos, a sobrevivência de comunidades inteiras depende da estabilidade dos produtores rurais locais. Quando uma propriedade agrícola enfrenta dificuldades financeiras, isso não afeta apenas o dono, mas também os trabalhadores, fornecedores e toda a cadeia produtiva associada. Logo, o fechamento de uma fazenda pode levar ao desemprego em massa, à perda de serviços essenciais e ao declínio econômico de toda uma região.
Portanto, é crucial que a recuperação judicial seja encarada não apenas como uma solução financeira, mas também como um instrumento para preservar o tecido social e econômico das áreas rurais. Isso envolve não apenas fornecer assistência financeira, mas também oferecer suporte técnico e capacitação para melhorar a gestão e a produtividade das propriedades rurais.
Em suma, a recuperação judicial oferece uma luz no fim do túnel a esses produtores rurais, mas é apenas uma parte da equação. Precisamos de um compromisso coletivo para apoiar e fortalecer nosso setor agrícola, garantindo que os produtores tenham as ferramentas e o apoio necessário para prosperar mesmo diante das adversidades enfrentadas, e o instituto da recuperação traz justamente isso, benefícios para se manter no mercado e ativo com suas atividades rurais.
* Marcelle Thomazini Oliveira é advogada, sócia no escritório Mestre Medeiros Advogados